quinta-feira, 26 de março de 2009

Lares oferecem comida pouco equilibrada

Deco avaliou qualidade e segurança das refeições em 20 instituições. Não deu notas negativas

00h30m

IVETE CARNEIRO

Mau mesmo é o teor de sal na comida. Depois há falhas de higiene que se resolvem com atitudes.

A Deco visitou 20 lares de idosos e faz uma avaliação sem notas globais negativas à higiene e qualidade das refeições.

A Associação de Defesa dos Consumidores Deco quis ter uma ideia de como se alimentam os idosos que vivem em lares nas regiões de Lisboa e do Porto. E concluiu que, apesar da qualidade satisfatória geral, há pontos negros a corrigir. E apela, por isso, a uma maior fiscalização da Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE). Sobretudo para sensibilizar os operadores.

A Deco detectou um teor de sal nas refeições superior ao recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), mas Dulce Ricardo, uma das técnicas responsáveis pelo estudo a publicar na edição d e Abril da revista Proteste, admite que se trata de um problema difícil de resolver. "É um mal nacional: os portugueses exageram no sal. É um hábito que tem que ser alterado aos poucos, porque não se pode mudar o sabor de um dia para o outro".

Em avaliação esteve o funcionamento das cozinhas, a qualidade nutricional de refeições dirigidas a um grupo mais susceptível como são os idosos, e a higiene das refeições. "Complexa e vital, a nutrição no idoso, que desenvolve necessidades nutricionais especiais, depende em grande parte do estado de saúde", lê-se no estudo. Ora, em algumas cantinas não só não há menus semanais, como não são tidas em conta as especificidades dos utentes.

Num dos lares visitados, em 14 refeições programadas, oito envolviam fritos. Num deles, estava previsto um prato pesado, como o rancho, para o jantar. Quanto ao sal - a classificação dos 20 lares foi má ou medíocre -, numa só refeição eram ultrapassadas as cinco gramas diárias recomendadas pela OMS. "Detectámos alimentação com excesso de gorduras e proteínas, em detrimento dos hidratos de carbono", diz Dulce Ricardo, que dá nota positiva aos conteúdos em fibra e à presença da sopa - "mas pouco variada".

Negativa é a qualidade das saladas. Só um lar oferecia um prato irrepreensível nos oito que, no dia da visita da Deco, serviram salada. E três continham microrganismos. "Há problemas de higiene e conservação, embora não tenhamos encontrado nenhuma bactéria patogénica - as que põem em causa a saúde das pessoas". A solução passa apenas por melhores lavagem e refrigeração. Como as outras falhas, resolve-se com "uma ligeira formação dos funcionários" e com "o apoio de um nutricionista ou de um dietista".

"Encontrámos algumas falhas fáceis de colmatar" nas cozinhas. Como chãos e tectos mal limpos, caixotes de lixo abertos e iluminação e exaustão deficientes em 11 cozinhas. São sugeridas pequenas obras em casos de lâmpadas sem protecção contra quebras, lavatórios sem água quente, paredes não laváveis, pavimento escorregadio e com drenagem inadequada e falta de redes nas janelas. Ou casas de banho a abrir para cozinhas.

Há ainda a registar problemas na desinfecção de mãos, utensílios, equipamentos, armários e prateleiras, falta de panos de limpeza, descongelação à temperatura ambiente. No caso das mãos, quatro lares foram reprovados. E foi mesmo detectada a bactéria E-coli, "indicadora de falta de higiene", numa colher de sopa de um lar do Porto e num frigorífico de uma instituição de Mem Martins.

Contudo, insiste Dulce Ricardo, "não há avaliações negativas, ao contrário do que aconteceu com outros estudos a cantinas".



In SOL

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