quinta-feira, 23 de abril de 2009

Associação para Planeamento da Família lança campanha para erradicar aborto clandestino



A Associação para o Planeamento da Família (APF) iniciou hoje uma campanha de esclarecimento sobre os direitos das mulheres em matéria de Interrupção Voluntária da Gravidez (IVG) para «erradicar» o aborto clandestino em Portugal


«É uma campanha dirigida principalmente às mulheres em idade fértil», disse à agência Lusa o presidente da APF, Duarte Vilar, adiantando que ainda há muitas mulheres com dúvidas sobre o processo de IVG.

Desde Julho de 2007, a regulamentação da Lei nº 16/2007 de 17 de Abril permite às mulheres que queiram interromper uma gravidez não desejada recorrer ao centro de saúde ou ao hospital da sua área de residência para iniciar o processo de IVG.

Segundo a lei, a mulher tem direito a aconselhamento médico antes e depois de abortar e a discutir com o médico que a assiste as opções de contracepção futura.

Além de fixar o regime de consulta obrigatória para iniciar o processo de IVG, a lei impõe ainda o dever de sigilo relativamente a todos os actos, factos ou informações por parte dos profissionais de saúde e profissionais de intervenção comunitária.

No entanto, muitas mulheres desconhecem esta legislação e a APF tem testemunhos de que continua a haver situações de aborto inseguro, principalmente entre os grupos mais desfavorecidos que recorrem a medicamentos abortivos que adquirem no mercado paralelo, adiantou Duarte Vilar.

Apesar de ser uma «situação de maior insegurança e de perigo se houver uma toma de medicamentos descontrolada», o recurso a esta prática é «muito menos perigoso» do que um aborto feito num «vão de escada, por aspiração ou auto-aborto», explicou.

A coordenadora da Linha Opções da APF, Elizabete Souto, adiantou que muitas mulheres desconhecem como se inicia o processo de IVG, outras não sabem se este processo tem custos ou riscos, se é feito ou ambulatório ou quanto tempo demora todo este processo.

As dúvidas destas mulheres podem ser respondidas na Linha Opções - criada em 2006 -, que recebe uma média de 60 a 70 chamadas por mês, tendo recebido 800 chamadas em 2006 e no anos passado 1.500.

«Ultimamente há mulheres que nos ligam em processo de aborto porque não sabem como tomar os comprimidos», disse Elizabete Souto, adiantando que a maioria das mulheres que recorrem a este serviço tem entre os 20 e os 35 anos.

Segundo a responsável, 89 por cento das mulheres que ligam para a linha Opções estão grávidas com menos de dez semanas.

Duarte Vilar adiantou que um dos objectivos desta campanha é divulgar a Opções (707 2002 49), uma linha de ajuda e informação sobre gravidez não desejada, IVG e acompanhamento contraceptivo.

Elizabete Souto adiantou que esta aproximação das mulheres aos serviços se saúde é uma boa oportunidade para a mulher rever o método contraceptivo.

«É fundamental trabalhar a contracepção de risco», afirmou a responsável, adiantando que metade das mulheres que recorreram à Linha Opções não estava a utilizar métodos contraceptivos.

No âmbito desta campanha serão distribuídos em todos os centros de saúde e hospitais materiais informativos sobre este tema.

O presidente da APF, Duarte Vilar, adiantou ainda que vai propor à Direcção-Geral da Saúde (DGS) a distribuição nos centros de saúde do anel vaginal e do adesivo, dois métodos contraceptivos alternativos para as mulheres, principalmente aquelas que se esquecem de tomar a pílula.

Segundo Duarte Vilar, um inquérito realizado pela APF revelou que em Dezembro de 2005 teriam sido realizados cerca de 17.000 abortos clandestinos em Portugal.

Dados da Direcção-Geral da Saúde (DGS) relativos a 2008 indicavam a realização de cerca de 18.000 IVG em Portugal.

Lusa/SOL




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