1 - O desemprego voltou a bater um
recorde e não é homogéneo em todo o país. A taxa nacional é de 14% mas
há regiões com valores superiores, como é o caso do Algarve onde está já
em 17,5%. Albufeira é, de resto, um dos concelhos mais castigados pelo
desemprego, a julgar pelo número de pessoas inscritas nos centros de
emprego. Não é preciso entrar em maior detalhe para perceber que o caso é
mesmo grave e que tenderá a agravar-se nos próximos trimestres.
2 - A taxa real de desemprego é de 18,2% se
contabilizarmos os inativos disponíveis (203,1 mil) e os inativos
desencorajados (82,9 mil). São pessoas que, não tendo emprego, não
fizeram nada para o encontrar nas três semanas anteriores ao inquérito
do INE. Ao todo, com estas duas parcelas o total de desempregados já
sobe para 1,057 milhões.
3 - O número de pessoas com trabalho mas a
querer trabalhar mais horas - o chamado subemprego visível - aumentou no
último trimestre e atinge agora 186,6 mil pessoas. O INE considera
empregado qualquer pessoa que tenha trabalhado pelo menos uma hora. Só
nos últimos três meses do ano, aumentou em 27 mil o número de pessoas
nesta situação. Ao mesmo tempo, os trabalhadores em part time continuaram a aumentar e eram 632,9 mil no final de 2011, mais 62,3 mil que em 2010.
4 - Num ano de destruição de emprego em
Portugal, em que se perderam 88,3 mil postos de trabalho por conta de
outrem, houve criação de emprego nos trabalhos mais mal pagos
(eventualmente por serem a tempo parcial). Ao longo de 2011, criaram-se
24,8 mil empregos com salários abaixo de 310 euros.
5 - O desemprego de longa de duração (mais de 25
meses) continua a crescer e representa mais de metade da taxa total
(7,4%). São, em muitos casos, pessoas com idade acima de 45 anos e que
terão enorme dificuldade em regressar ao mercado de trabalho. Os dados
publicados pelo INE não permitem cruzar a informação do desemprego de
longa duração por idades para medir em pormenor este problema.
6 - Portugal perdeu 213,4 mil empregos no ano
passado. São já mais de 400 mil desde 2008. Sem crescer a economia não
cria emprego e com a recessão que se prevê para este ano espera-se que a
destruição continue. O exemplo da Grécia, onde a taxa de desemprego que
praticamente vai duplicar no espaço de quatro anos, assusta.
7 - O mercado está fechado para os mais novos
que procuram o primeiro emprego. É grave, em primeiro lugar, porque são
potenciais trabalhadores com bastante formação em muitos casos, nos
quais o país investiu, e que agora são desaproveitados. E, em segundo
lugar, porque a natalidade é cada vez mais baixa e este tipo de
dificuldades não ajuda nada a inverter o problema. O número de
desempregados à procura do primeiro emprego aumentou em 2011 (mais 13,3
mil que em dezembro de 2010) e a taxa de desemprego jovem atingiu 35,4%.
8 - Há cada vez mais desempregados sem subsídio.
Basta cruzar os dados do INE com a Segurança Social para perceber a
dimensão do problema. Em dezembro, a Segurança Social pagou subsídio a
316 mil pessoas, ou seja, cerca de 40% dos 771 mil desempregados
estimados pelo INE. Com as novas regras do subsídio, que exige menos
tempo para se ter acesso mas tem um período de atribuição mais curto, a
situação tende a piorar.
9- Menos de metade dos desempregados não
recorreu a um centro de emprego para tentar encontrar trabalho. Para o
Estado, que tem nestes centros o seu braço armado para atuar no mercado
de trabalho, não é um dado nada animador.
10 - O desemprego em Portugal é cada vez mais
sério e vai agravar-se. E é precisamente nesse momento que a proteção do
Estado está a diminuir, quer no subsídio de desemprego, quer em outras
prestações sociais. É bastante sintomático desta situação que, num ano
que surgiram 168,4 mil novos desempregados, o número de beneficiários
tenha aumentado em apenas 20 mil. O governo já falou em flexisegurança
mas, na realidade, é de flexinsegurança que se trata.
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