segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Dois mil bebés de risco social apenas em cinco hospitais






Maternidade.
Poucas condições sociais, desemprego e famílias disfuncionais são sinais de risco para as crianças. Hospitais acompanham grávidas e fazem toda a articulação institucional para que possam criar os filhos em casa. Mas nem sempre é possível. Muitos vão para centros de acolhimento ou adopção

Crise fez subir os casos em 2008 e vai piorar este ano

Milhares de bebés nasceram no ano passado nos hospitais sem as mães terem condições para os criar. São filhos de toxicodependentes, vítimas de violência doméstica e com doença mental, famílias disfuncionais, ou a viver numa carência tal que, em casos extremos, as equipas dos hospitais e os tribunais não arriscam entregar-lhes os filhos na hora de deixar a maternidade.

Muitos destes recém-nascidos ficam retidos várias semanas à espera de decisão judicial ou que a família se organize para os receber, ou seguem para centros de acolhimento, mesmo que provisoriamente. Uma minoria é encaminhada pela mãe para adopção. A maioria saem na altura da alta clínica, embora apoiados pela rede social.

Só em cinco hospitais - Santa Maria, Amadora-Sintra, Barreiro, Coimbra e Maternidade Alfredo da Costa (MAC) - foram sinalizados dois mil bebés de risco em 2008, apurou o DN. Uma realidade que já se agravou no ano passado e que piorará este ano com a crise, não duvidam os responsáveis hospitalares. Em 2008, a MAC teve 420 casos, mais 32 do que em 2007.

Madalena Barros, do Amadora Sintra, diz que durante 2008 "sentiu-se um agravamento muito grande das condições sociais das pessoas". Algo que, adianta, se reflecte no número de pessoas pobres mas também no "equilíbrio emocional das famílias" que compromete o bem estar das crianças.

Muitos casos de negligência que ocorreram reproduzem também algo que a mãe já viveu. A gravidez na adolescência continua a ser uma preocupação, nomeadamente em realidades sociais baixas, embora não seja um exclusivo dos pobres. "Há uma leviandade em certas jovens que, quando mudam de namorado parece que mudam de filhos", diz a técnica.

É preciso sinalizar mais cedo

Muitos destes casos problemáticos geridos pelos hospitais são resolvidos ou encaminhados durante o internamento e as crianças seguem com as mães, apoiadas na retaguarda e de perto pela rede social, sejam as comissões de protecção de jovens e crianças ou as instituições sociais. Outros casos sinalizados revelam-se falsos alarmes e não implicam medidas.

Estes bebés de risco são sinalizados na gravidez - pelos centros de saúde, comissões, tribunais, instituições ou escolas - ou na altura do parto, quando alguns sinais indiciam algo de errado. "Se a mãe não quer saber do filho, ou está ansiosa com a presença do marido, isso pode significar alguma coisa", explica Filomena Nogueira da Costa, do Hospital Santa Maria, em Lisboa. Aí faz-se um diagnóstico social e tomam-se medidas.

"O trabalho essencial é de articulação institucional. Um recém-nascido não sai sem projecto de vida", garante , nem que para isso seja preciso avisar o tribunal e reter a criança enquanto a família se estrutura. Mas, diz, "há casos em que o alerta é tardio e temos noção que houve um trabalho que podia ser feito e que se perdeu".


in DN online

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