domingo, 25 de janeiro de 2009

Mais esperança para depressão pós-parto







Tratamento.
Dois estudos publicados no último número da revista inglesa 'British Medical Journal' demonstram que é possível ajudar as mães que ficam deprimidas depois do nascimento de um filho sem recorrer a antidepressivos. Apoio terapêutico e conversas com antigas doentes podem bastar

Alterações hormonais podem levar à doença

"Não dormia, estava ansiosa, tinha medo de não conseguir dar conta do recado", foi assim que Ana Guadalupe, com 35 anos, apareceu ao seu psiquiatra ainda o filho não tinha um mês. Foi-lhe diagnosticada uma depressão pós-parto.

Esta doença surge até 30 semanas depois do nascimento da criança e pode resultar de um reajuste hormonal do corpo, de factores emocionais, do estilo de vida, ou de uma combinação destes elementos. A depressão pós-parto tende a resolver-se por si, sem que seja necessária qualquer intervenção médica. Mas, noutros casos, a mãe pode ficar incapacitada de cuidar da criança. No limite, a depressão pode mesmo levar ao suicídio e ao abandono da criança.

Segundo vários especialistas, 13% das mães sofrem de depressão pós-parto. No entanto, há uma nova esperança para reduzir este número. Mesmo sem a ajuda de medicamentos. Dois novos estudos, publicados no último número do British Medical Journal, demonstram que a assistência psicológica ao domicílio e o apoio de mulheres que também enfrentaram a mesma situação podem tratar ou mesmo prevenir a depressão pós-parto.

Foi por experiência própria que Ana aprendeu a ouvir os conselhos dos médicos e das outras mães. Há dois anos esta professora engravidou do Gonçalo, um filho há muito desejado e idealizado. Mesmo já tendo 33 anos, "tinha uma imagem muito idílica do que era ter filhos. Imaginava uma enorme harmonia. Mas há momentos terríveis", admite Ana.

Durante a gravidez tudo parecia correr bem, pelo menos até ao momento em que os médicos suspeitaram de que o filho podia sofrer de uma malformação. Desconcertada com esta hipótese, Ana começou a ter as insónias, que se estenderam muito para além do momento em que os exames revelaram que o Gonçalo era saudável. De acordo com o psiquiatra António de Albuquerque, "na base da depressão pós-parto também há muitas vezes a presença de factores de stress muito elevados durante a gravidez, como a mulher ser muito nova, não se sentir preparada, estar em conflito com o companheiro ou a família, ou estar desempregada".

No caso de Ana, à ansiedade na gravidez e a um parto complicado juntou-se um companheiro pouco atento às suas necessidades, de quem acabou por se separar quando o filho nasceu. Foi sem hesitações que o seu obstetra a encaminhou para um psiquiatra, em que pôde finalmente revelar que se sentia desesperada e insegura por ter de tratar do Gonçalo sozinha. Um ano depois, Ana acabou por recuperar da depressão, com a ajuda da medicação e das conversas que teve com outras mães. Hoje, sente-se segura e capaz de ser a mãe que deseja, mas recorda que "uma das coisas que mais custaram foi ter de secar o peito e deixar de dar de mamar por causa dos medicamentos", relembra. Apesar de a concentração de drogas antidepressivas detectadas em latentes ser geralmente baixa, os médicos desaconselham a amamentação, com receio de que os bebés possam sofrer de efeitos secundários.

A investigadora Jane Morreal, da Universidade de Huddersfield, no Reino Unido, seguiu, com os seus colegas, as consultas de obstetrícia ao domicílio de quatro mil mães. Segundo explica o British Medical Journal, as mulheres diagnosticadas nessas consultas como tendo uma depressão pós-parto foram então divididas em dois grupos: num continuavam com as regulares visitas de obstetrícia, no outro grupo as mães eram acompanhadas durante as consultas por peritos de saúde mental. Verificou-se que as mulheres que apresentavam sintomas depressivos seis semanas depois do parto e recebiam o apoio terapêutico tinham 40% menos probabilidades de continuarem deprimidas aos seis e aos doze meses. Todavia, na opinião do psicólogo clínico José Pacheco, "este é um daqueles estudos em que antes de serem feitos já se sabe os resultado, porque quando a pessoa tem informação e apoio é sempre melhor" para a saúde.

Já a outra investigação, publicada na mesma revista, confirmou que mães em risco de depressão pós-parto tinham menos 50% de hipóteses de ficarem doentes se falassem regularmente com outras mulheres que tinham sofrido o mesmo problema.

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