O número correios de droga está a crescer "exponencialmente" entre os portugueses e são cada vez mais os que transportam cocaína no organismo, correndo risco de vida. São "recrutados" devido à "fragilidade económica e social", segundo um investigador da Judiciária.
António Sintra, coordenador de investigação criminal da Polícia Judiciária (PJ) e responsável pela secção de unidade nacional de combate ao tráfico de estupefacientes (por via aérea), revelou à Lusa que, nos últimos dez anos, este aumento foi "exponencial".
Dados oficiais indicam que, em 2010, foram detidos em Portugal 207 correios de droga e que, no primeiro trimestre deste ano, já foram presos 40 indivíduos pelo mesmo crime.
"Há muitas detenções no território português, mas também há muitos portugueses presos no mundo por serem correios de droga e apanhados nesses países", disse.
175 portugueses detidos em 2010
Em 2010, foram detidos em países de vários continentes 175 portugueses correios de droga, mas António Sintra ressalva que deverão ser mais, porque não é obrigatório transmitir estes dados às autoridades portuguesas.
Segundo o inspetor, estes portugueses caracterizam-se pela sua "fragilidade económica e social" e são recrutados por "multinacionais da droga" que precisam de colocar no mercado, nomeadamente europeu, a droga que produzem em continentes como a América do Sul.
O especialista explicou que, nos últimos anos, com vista a evitarem grandes perdas quando as autoridades detetam o material ilícito, os produtores optaram por introduzir a droga em pequenas quantidades, apostando nestes correios.
A dissimulação em malas ou em redor do corpo continua a ser uma forma de estes correios transportarem a droga, mas atualmente a forma mais frequente é a ingestão em "bolotas", com riscos para a saúde e a própria vida.
Penas de pelo menos quatro anos de prisão
Segundo António Sintra, os correios transportam, em média, entre meio quilo e três quilos de droga, sendo a cocaína a mais frequente.
Por este transporte, podem receber entre 500 e mil euros, valores que dependem, sempre, da quantidade de droga transportada.
Quando apanhados pelas autoridades, estes traficantes arriscam penas não inferiores a quatro anos de prisão.
Mas o risco aumenta substancialmente quando a droga é transportada no organismo, não sendo raros os casos de correios que perdem a vida devido ao material que ingeriram.
Em média, os correios que utilizam este meio de transporte de droga distribuem entre 500 e 700 gramas por "bolotas" que ingerem, esperando que o organismo as venha as expelir.
Mas os mais de 30 anos de experiência não são suficientes para impedir que António Sintra se surpreenda. Recentemente, as autoridades detiveram um correio de droga no aeroporto de Lisboa que tinha ingerido 2.240 gramas em bolotas, as quais acabaram por sair naturalmente. "Estamos sempre a ser surpreendidos", confessou.
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