quinta-feira, 8 de dezembro de 2011



Portugal é o sexto país mais desigual do mundo desenvolvido (act.)
05 Dezembro 2011 | 10:22
Eva  Gaspar - egaspar@negocios.pt

O fosso entre os mais ricos e os mais pobres continua a ser especialmente cavado por cá. Mas ao contrário da tendência na OCDE, os rendimentos dos mais pobres têm crescido acima dos que mais têm, em boa medida devido a políticas sociais que, por causa da crise, estão agora ser forçadas a fazer marcha atrás.
Portugal continua a ser, de acordo com vários indicadores, um dos países mais desiguais do mundo desenvolvido. Os 20% mais ricos têm rendimentos seis vezes (6,1) superiores aos dos 20% mais pobres.

Em média, na OCDE, o fosso entre ricos e pobres é menos cavado (5,5 vezes). A tabela das desigualdades é liderada pelo México (onde os 20% mais ricos têm 13 vezes mais do que os 20% mais pobres), seguido de perto do Chile (12,8), Turquia (8,1), Estados Unidos e Israel, ambos com um rácio de 7,7.

Mas ao longo das últimas duas décadas, o rendimento dos que menos ganham subiu em Portugal, em média, 3,6% ao ano, bem acima da subida de 1,1% registada nos rendimentos dos que mais têm.

Estes valores contrastam com a dinâmica, contrária, na OCDE, onde os rendimentos dos que mais têm cresceram acima (1,9%) dos que menos têm (1,3%).

Estes dados constam do relatório hoje divulgado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) , que constata a persistência e mesmo o agravamento das desigualdades na grande maioria dos países da organização. O relatório destaca, em particular, o facto de países com fortes desigualdades, como os EUA e Israel, terem acentuado o fosso entre pobres e ricos, e de o mesmo fenómeno ter atingido países tradicionalmente mais igualitários, como a Alemanha, a Dinamarca e a Suécia.

No caso português, o relatório apresenta várias lacunas relativamente a dados mais recentes, mas é possível constatar a evolução positiva do rendimento real desde meados dos anos 80 até meados da década de 2000, com o crescimento dos rendimentos dos que menos têm a quase quadruplicar o dos mais ricos.

A explicação para este fenómeno estará na subida das despesas de carácter social, com efeitos redistributivos, que em meados da década de 2000 representavam em Portugal o equivalente a 22,9% do PIB, acima dos 19% da média da OCDE, e bem acima dos 16,5% que representava em 1995 ou ainda mais dos 10,1% que atingia uma década antes.

O estudo da OCDE permite concluir que Portugal é um dos países em que as transferências em dinheiro e sobretudo em prestação de serviços públicos (de educação e saúde) revelam maior capacidade de atenuar o hiato entre os mais pobres e os mais ricos, com reduções superiores a 35%, dez pontos percentuais acima da média do resultado médio das políticas sociais na OCDE.


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