segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Aborto clandestino é residual mas existe






O aborto clandestino em Portugal é hoje "residual, mas não está completamente extinto", até porque ainda há mulheres que desconhecem que a IVG foi despenalizada, afirma a coordenadora da Linha Opções.

Com base na experiência das chamadas recebidas e no trabalho desenvolvido pela Associação para o Planeamento da Família (APF), Elisabete Souto diz que continua a haver um circuito clandestino de aborto em Portugal um ano e meio após a regulamentação da lei da Interrupção Voluntária da Gravidez (IVG), que permite o aborto, a pedido da mulher, até às 10 semanas de gravidez .

A responsável da Linha Opções, que dá informações e aconselhamento sobre IVG e contracepção e que hoje comemora dois anos de existência, refere que algumas mulheres que recorrem ao aborto clandestino são "menos informadas". Destaca ainda que há muitas mulheres que desconhecem que o aborto já foi despenalizado. Segundo Elisabete Souto, telefonam mulheres que perguntam, por exemplo, qual a dosagem [de comprimidos] que se deve utilizar para fazer a IVG de forma eficaz. Nestes casos, a Linha explica que existe uma lei nova e as "vantagens de fazer uma IVG de forma legal e segura no Serviço Nacional de Saúde", esclarece.

No entanto, nota uma mudança de mentalidade. "Desde a regulamentação que se nota uma grande diferença. As mulheres sentem que conquistaram um direito" e deixaram de "falar baixinho e em código", assegura, salientando que a grande parte das mulheres que pretende fazer um aborto está ainda no primeiro trimestre de gravidez.

Por outro lado, nos últimos meses têm-se registado mais contactos de homens (namorados ou companheiros) e de mães de jovens grávidas, acrescentou a responsável. Professores que querem saber como ajudar alunas são outros dos "utilizadores" desta linha de "informação e aconselhamento sobre gravidez não desejada, interrupção voluntária da gravidez e aconselhamento contraceptivo".

Os utilizadores mais habituais são, porém, mulheres entre os 20 e os 35 anos que vivem, sobretudo, nos distritos de Lisboa, Porto e Setúbal.

Os motivos mais repetidos por quem telefona para querer recorrer IVG são a "situação económica, idade (umas dizem-se demasiado jovens, outras já sem idade), o factor instabilidade conjugal e uma gravidez não planeada".

in JN

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