segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Famílias deixam idosos com alta no hospital





Todos os anos, na época de Natal, o Hospital Curry Cabral regista 15 a 20 casos de idosos que se mantêm internados depois de terem alta porque ninguém os vai buscar!


A situação repete-se em unidades de saúde um pouco por todo o país. Este ano ainda não foi identificado qualquer caso naquela unidade de saúde lisboeta, mas os que lá trabalham estão apenas à espera do dia em que tudo começa a mudar.

«Na época que se aproxima, junto da quadra natalícia, chegamos a ter 15 a 20 casos sociais, normalmente surge um ou dois casos por dia», disse à Lusa o presidente do Conselho de Administração, Manuel Delgado.

No Algarve, o presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar do Barlavento Algarvio, Luis Batalau, confirma o cenário e acrescenta que «passadas as festas, a maioria vem buscar o idoso».

No Hospital de S.João, no Porto, a assessora de imprensa fala em famílias que «protelam a alta dos idosos dois ou três dias», apontando também a época de natal como «a pior altura».

A responsável pelo serviço social do Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, Ana Maria Almeida, explica o porquê deste adiamento: «As pessoas decidem sair da cidade e programam a suas vidas a contar que o familiar vai ficar hospitalizado, esquecendo que a permanência no hospital é temporária».

Quando contactados pelos serviços, informando que o familiar já teve alta, muitos «chegam mesmo a desligar o telemóvel e até a dar moradas falsas para não serem incomodados», recordou Manuel Delgado.

«As famílias nunca assumem que não os vão buscar. Quando entramos em contacto dizem que não podem ir nesse dia e depois não atendem os telefones», explicou. Os responsáveis hospitalares contactados pela Lusa recusam-se a considerar que estas histórias configuram casos de abandono por parte da família, mas todos reconhecem que a permanência no hospital traz riscos acrescidos para a saúde do idoso que deviam ser acautelados.

«Há filhos que não querem levar os pais para casa no dia em que têm alta, apesar de alertarmos para o perigo das infecções hospitalares que são reais e graves», lamentou Ana Maria Almeida.

E esta não é uma realidade exclusiva das classes desfavorecidas, garantem os responsáveis do Algarve e de Lisboa. «Na classe média também acontece, ou seja, não é só por falta de recursos financeiros que as pessoas se recusam a ficar com o familiar idoso. São pessoas mais egoístas, menos solidárias», sublinhou Manuel Delgado, do Curry Cabral. Manuel Delgado garante que «ninguém põe os doentes na rua ou em casa de familiares que não o querem aceitar».

«Tem de haver sempre um mínimo de receptividade por parte da família». Mas, quando não se consegue, o hospital fica com os idosos: «não é ético estar a atirar os doentes porta fora».

Fonte: SOL

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