domingo, 22 de agosto de 2010


Mulheres com vidas amorosas complicadas, casais em crise e pessoas com histórias de abandono decidem dar os filhos para  adopção logo após o nascimento 
 
Catarina (nome fictício) passou as últimas semanas de gravidez de baixa médica. Disse aos colegas que estava doente e evitou cruzar-se com os vizinhos. Debaixo das roupas largas foi escondendo a vida que trazia dentro de si. Aos 30 anos, vive sozinha, tem poucos amigos, uma vida amorosa complicada. E pouco espaço para um bebé. Dar o filho para a adopção foi a saída para o problema.
«A adopção é um projecto de vida para a criança» , explica Fátima Xarepe, responsável pelo serviço social da Maternidade Alfredo da Costa (MAC), em Lisboa, onde no ano passado quatro mulheres decidiram dar os filhos logo após o parto.
Catarina faz parte dos números e corresponde ao perfil das mulheres que tomam esta decisão. «A solidão e a falta de laços afectivos são as razões principais para dar um filho para a adopção» , sublinha a assistente social, lembrando que, «em muitos casos, são pessoas de classe média, com formação superior e na casa dos 30».
E essas são as que menos voltam atrás, apesar de a lei dar às mães um prazo de seis semanas para reflectirem. «São opções ponderadas e racionais e é difícil mudar de ideias».
Findo o prazo e depois de uma audiência em tribunal, cortam-se todos os laços entre mãe e filho, apesar de a criança ser registada pela progenitora. «Muitas vezes até nos pedem para sermos nós a escolher o nome», conta Elsa Silva, do serviço social da Maternidade Bissaya Barreto, em Coimbra, onde em 2009 ficaram registados três casos.
«Estas mulheres querem ter o mínimo contacto possível com os filhos porque é um processo doloroso. Não dão de mamar e raramente pegam no bebé ao colo após o parto», frisa a assistente social.
Dar cinco filhos
Este ano, foram já duas as crianças deixadas para adopção na Bissaya Barreto. «Eram estudantes universitárias, que tiveram relações ocasionais e só descobriram estar grávidas depois do prazo legal para um aborto».
Mas também há histórias de mulheres que repetem o processo, sem que os assistentes sociais consigam intervir. Marisa (nome fictício) é uma delas. Ao longo dos anos, deixou cinco filhos na Maternidade Alfredo da Costa. Tem quase 40 anos e diz não saber quem são os pais das crianças. Apesar de viver com a família, conseguiu ocultar todas as gravidezes.
«No espaço de quatro anos, uma mulher deixou três filhos, todos rapazes, na Bissaya Barreto», recorda Elsa Silva, que nunca a conseguiu convencer a frequentar as consultas de planeamento familiar e apoio psicológico. «Sabemos muito pouco sobre essa mulher, porque ela só cá vem dar à luz» . De todas as vezes, a mãe registou os filhos com o mesmo nome. 

Notas:
Tenho alguns dos meus leitores no msn e com quem falo com alguma regularidade e estes sabem que muitas das vezes não me centro apenas no serviço social. Muitas são as vezes em que me remeto aos meus pensamentos, à minha vida, à minha experiência enquanto pessoa e enquanto assistente social. Simplesmente há coisas para as quais não consigo ficar indiferente. Já trabalhei com crianças. Hoje em dia sou mãe e confesso que isso mudou os meus horizontes mesmo a nível profissional. Acho que passei a ver  o mundo de outra maneira. Se outrora era a favor do aborto e a favor da adopção, hoje divido-me em perguntas e angústias pelos processos extremamente longos que se arrastam nos tribunais. Continuo a ser a favor do aborto, aliás, posso dizer que a primeira vez em que assumi o meu dever civico foi ao exercer o meu direito de voto de acordo com aquilo em que acreditava e que em acredito. Mas por outro lado, o processo de adopção dá-me dores de barriga. bebés e crianças continuam a esperar muito tempo por uma familia que os ame. E nos primeiros meses de vida a mim parece-me fundamental. A minha filha tem 7 meses, reconhece o pai e mae, reconhece todos as pessoas que nos são próximas, reage de acordo com a relação que tem com cada uma delas. Por muitos bons técnicos que uma instituição tenha, não é a mesma coisa que uma familia. os bebes desde cedo que imitam os adultos e criam vinculos com os mesmos. A Iris acabou de jantar, está ali a olhar para mim a brincar com os seus brinquedos e mais 5 minutos e vai para a caminha, mas ainda agora a pouco me chamou com a mão, a fazer o tão famoso anda cá, fui ate ela, esticou os braços e pediu colinho. São estas pequenas coisas que são importantes nos alicerces emocionais e relacionais de qualquer criança.....o facto destes processos chegarem muitas vezes a arrastarem-se anos em tribunais preocupa-me. Fugi ao tema, mas foi isto que pensei quando li a noticia.

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