Ela refugiou-se numa casa- abrigo com as duas crianças. Ele descobriu-os, apareceu de pistola na mão. E ela fugiu para outra casa-abrigo. Não se adaptou; era uma criatura de cidade forçada a recomeçar no campo. E tornou a mudar-se. E conquistou uma autonomia precária. "Tinha muito medo de andar na rua. Não acreditava em mim como ser humano."
Saiu com 500 euros de bolsa e 48 de Rendimento Social de Inserção (RSI). Findo o curso de Geriatria, passou a receber 525 - RSI e apoio complementar para renda de casa. Tudo se altera agora. "A assistente social disse que ia baixar." Um adulto com duas crianças recebe, no máximo, 379,04 euros de RSI. "Não sei como vou pagar a renda de 300 euros."
Falta-lhe retaguarda familiar. E tem duas crianças - uma de 11 e outra de nove anos. E o ex-companheiro partiu-lhe grande parte dos dentes. Os poucos que lhe restam estão rachados. "Não consigo trabalho porque não tenho dentes. Pedi ajuda à assistente social e ela disse-me que o Estado está a cortar tudo."
O namorado ajuda, mas horroriza-a tornar a ficar dependente de um homem. Tivera o filho mais velho havia um mês quando o ex-companheiro lhe bateu. Ela responsabilizou a avó, que se metia. Mas tudo piorou quando ficaram sozinhos, numa casita, numa quinta que os empregou. "Bebia muito. O pequeno-almoço dele era uma cerveja e um pastel de nata."
Tantas vezes foi ameaçada com facas, pistolas, machados. "Eu apresentei queixa várias vezes. Tirava, porque ele dizia: "Não és minha, não és de ninguém. Mato-te, mato os teus filhos e mato-me." Uma vez, eu disse que não queria saber dele e ele apertou-me o pescoço, deu-me com a cabeça na parede, e disse ao meu filho: "É assim que se tratam as mulheres!""
Viu a mãe matar-se. Ficou com a avó. Um vizinho violou-a aos 12 e ela ordenou-lhe que lhe exigisse cinco contos - o que cobrava uma prostituta. E Maria teve de voltar atrás e de pedir o dinheiro para entregar à avó. Ao perceber o que acontecera, uma tia alertou a polícia. O homem foi para a cadeia e Maria para um lar. Só que a protecção termina aos 18, a não ser que se peça um prolongamento. E ela regressou à avó. E conheceu o ex-companheiro.
Só ganhou coragem para fugir ao vê-lo bater na filha com um ferro. Esteve numa pensão. Esteve nuns tios. Trabalhava num restaurante. Tinha relações sexuais com dois homens em troca de uns trocos para sustentar a família. O ex-companheiro já a descobrira na pensão. Descobriu-a ali. Um dia, ela explodiu, bateu no filho. Só então alguém decidiu ajudá-la.
Sentia-se destruída: "Ele dizia-me: "Tu não prestas para nada. Tu és pior do que as cadelas que andam na rua. Tu és um zero à esquerda."" Pouco a pouco, recuperou: "Hoje tenho os meus filhos, o meu cantinho, um namorado que me diz: "Tens de ser amada e respeitada.""
Decorreram quatro anos desde que saiu de casa. Só em Outubro do ano passado sossegou. Agora, desassossegou. "A assistente social já disse: "Ou consegue uma casa por menos ou tem de ir para um albergue. Um sítio onde cai tudo - prostitutas, toxicodependentes, alcoólicos." Outra vez?!"
Saiu com 500 euros de bolsa e 48 de Rendimento Social de Inserção (RSI). Findo o curso de Geriatria, passou a receber 525 - RSI e apoio complementar para renda de casa. Tudo se altera agora. "A assistente social disse que ia baixar." Um adulto com duas crianças recebe, no máximo, 379,04 euros de RSI. "Não sei como vou pagar a renda de 300 euros."
Falta-lhe retaguarda familiar. E tem duas crianças - uma de 11 e outra de nove anos. E o ex-companheiro partiu-lhe grande parte dos dentes. Os poucos que lhe restam estão rachados. "Não consigo trabalho porque não tenho dentes. Pedi ajuda à assistente social e ela disse-me que o Estado está a cortar tudo."
O namorado ajuda, mas horroriza-a tornar a ficar dependente de um homem. Tivera o filho mais velho havia um mês quando o ex-companheiro lhe bateu. Ela responsabilizou a avó, que se metia. Mas tudo piorou quando ficaram sozinhos, numa casita, numa quinta que os empregou. "Bebia muito. O pequeno-almoço dele era uma cerveja e um pastel de nata."
Tantas vezes foi ameaçada com facas, pistolas, machados. "Eu apresentei queixa várias vezes. Tirava, porque ele dizia: "Não és minha, não és de ninguém. Mato-te, mato os teus filhos e mato-me." Uma vez, eu disse que não queria saber dele e ele apertou-me o pescoço, deu-me com a cabeça na parede, e disse ao meu filho: "É assim que se tratam as mulheres!""
Viu a mãe matar-se. Ficou com a avó. Um vizinho violou-a aos 12 e ela ordenou-lhe que lhe exigisse cinco contos - o que cobrava uma prostituta. E Maria teve de voltar atrás e de pedir o dinheiro para entregar à avó. Ao perceber o que acontecera, uma tia alertou a polícia. O homem foi para a cadeia e Maria para um lar. Só que a protecção termina aos 18, a não ser que se peça um prolongamento. E ela regressou à avó. E conheceu o ex-companheiro.
Só ganhou coragem para fugir ao vê-lo bater na filha com um ferro. Esteve numa pensão. Esteve nuns tios. Trabalhava num restaurante. Tinha relações sexuais com dois homens em troca de uns trocos para sustentar a família. O ex-companheiro já a descobrira na pensão. Descobriu-a ali. Um dia, ela explodiu, bateu no filho. Só então alguém decidiu ajudá-la.
Sentia-se destruída: "Ele dizia-me: "Tu não prestas para nada. Tu és pior do que as cadelas que andam na rua. Tu és um zero à esquerda."" Pouco a pouco, recuperou: "Hoje tenho os meus filhos, o meu cantinho, um namorado que me diz: "Tens de ser amada e respeitada.""
Decorreram quatro anos desde que saiu de casa. Só em Outubro do ano passado sossegou. Agora, desassossegou. "A assistente social já disse: "Ou consegue uma casa por menos ou tem de ir para um albergue. Um sítio onde cai tudo - prostitutas, toxicodependentes, alcoólicos." Outra vez?!"
Nenhum comentário:
Postar um comentário